DestaquePolíticaPaulo Pimentel critica Bolsonaro e prevê que militares não largam mais o poder

Aos 91 anos, lúcido, avareense que foi o mais jovem governador do Paraná chama presidente de despreparado e Lula de mau caráter
A Comarca11 de outubro de 201910 min
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Gesiel Júnior
Especial para A Comarca

Na semana passada, em longa entrevista ao repórter Rodolfo Kowalski, do jornal “Bem Paraná”, o empresário Paulo Cruz Pimentelcontou sobre sua trajetória de sucesso na política. Esbanjando lucidez ele fez duras críticas ao governo Bolsonaro e uma curiosa previsão de que os militares ficarão longo período no comando do país. “Eles voltaram e não largam mais por 20 anos”, aposta.
Nascido em Avaré no ano de 1928, o filho caçula do dentista e ex-prefeito Públio Pimentel se consagrou como o mais jovem governador da história paranaense ao tomar posse em 31 de janeiro de 1966. Nessa época ele também construiu um verdadeiro império da comunicação, dirigindo jornais impressos, televisões e rádios, chegando, inclusive, a ser proprietário da maior rede de comunicação do Sul do Brasil.
Aos 91 anos, completados no último dia 7 de agosto, Pimentel se prepara para ver em breve o seu livro biográfico “Vim Vi Venci”, obra do jornalista Cleverson, pela Editora Cajarana. Fará revelação da perseguição que sofreu dos militares. Na ditadura teve atritos com o general Ernesto Geisel devido à sua ligação com o marechal Costa e Silva. “Sobrevivi graças aos meus contatos com outras figuras influentes e no governo Figueiredo voltei à normalidade”, mas após ter perdido a concessão de canais de rádio e TV.
Os paranaenses se recordam de que em sua gestão o estado avançou com amplo programa de energia elétrica, de estradas e de educação, pois ele abriu três universidades no interior: as de Londrina, Maringá e Ponta Grossa. Já na área agrícola Pimentel, que havia sido secretário da Agricultura, trocou o café pela soja. “A agricultura tem esse feitio hoje, de primeiro mundo, em grande parte por causa do meu governo”, afirma.

“Presidente é fora de época”
Sobre o enfrentamento entre a imprensa e o presidente Jair Bolsonaro, Pimentel é objetivo. “Eu credito isso a essa burrice do presidente e à clausura em que se colocam os donos dos jornais. Eles não vão procurar o poder. O Bolsonaro é burro de não ligar para conversar. Ele não entende, ele é fora de época. Falta diálogo, então ele dá cacete na imprensa e a imprensa responde. Mas ninguém pode governar com a imprensa chumbando desse jeito. Era preciso que alguém tomasse a iniciativa, pois sem a imprensa o governo acaba”, adverte.
Pimentel considera Bolsonaro uma pessoa despreparada. “O cargo enche a pessoa, ela tem milhares de responsabilidades. Ele tem que dominar o Congresso, tem de liberar as verbas. Ele vai fazer um ano de governo e está rodando em falso. Do outro lado, ele tem feito boas coisas. O relacionamento tão amigável com o presidente dos Estados Unidos… Ele agora virou um nome mundial. Fazendo burrada ou não, é conhecido mundialmente. E a economia começou a andar melhor, conseguiu um fôlego com as privatizações”, pondera.
Experiente, o político nonagenário analisa: “O Bolsonaro vai indo razoável até aqui, está tomando medidas que o povo queria. Ele ainda é uma pedra bruta, precisa agir como presidente da República, que é quase como um rei. E como rei tem que se comportar como manda a aristocracia, sem deixar de ser povo, claro. Mas na hora que senta na cadeira, é o presidente da República. Não pode dar entrevista toda hora. Outra coisa: como ele não é grande orador, tem que fazer discurso escrito, senão só fala bobagem. Entrevista, então… É nas entrevistas que ele cai. Mas se ele endireitar, vai fazer um ótimo governo”.
Pimentel não crê numa ruptura institucional e acredita que os militares planejaram uma maneira de voltar ao poder pela via eleitoral. “Esse caso do Bolsonaro é um estudo bem feito. Eles bolaram uma maneira de voltarem ganhando eleição. Então eles voltaram e não largam mais por 20 anos. Se não der certo, eles tiram o Bolsonaro e botam o vice. Isso é natural. O que eles não querem mais é cair. São 300 militares no governo, 10 generais da ativa. Então o Bolsonaro tem de se endireitar, tem de se comportar, senão vai cair. Mas se ele se endireitar, vai fazer um bom governo”, explica.

“Porcariada no STF”

Concluindo suas previsões do quadro político, Paulo Pimentel viu maturidade do povo brasileiro nas últimas eleições, mas criticou o ex-presidente Lula e a falta de credibilidade dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
“O Bolsonaro se elegeu para acabar com o PT e a roubalheira do Lula. O Lula é um grande ladrão. Tem suas características de bom político, mas é um mau caráter. E hoje o Lula é carta fora do baralho. Ele vai sair da prisão e vai embora para casa. Ele vai querer se pronunciar, mas vai ficar fora”, garante.
“Mas a pior coisa que aconteceu no Brasil é o desrespeito ao Supremo Tribunal Federal. Todos eles aí com mulher que é advogada, participando da marmelada. São pouquíssimos ministros que fazem jus. Eu achava o STF um rol de divindades, mas aí vi essa porcariada. O Judiciário não se habilitou para conquistar a opinião pública”, lamenta.
Com sabedoria política, o vetusto avareense conclui a entrevista dizendo que prefere não se aposentar para cuidar de sua fazenda de milho, de soja e de cana. Seu neto Eduardo Pimentel Slaviero é o atual vice-prefeito de Curitiba, a quem ajudou eleger. Sobre como deseja ser lembrado historicamente ele diz nem se preocupar.
“Comoeu passei pela vida pública e fiz alguma coisa, o que eu pretendo é alongar mais a minha convivência com os vivos, que aí a minha obra vai ficar por mais tempo. Minha alegria é essa. A única coisa que eu quero é ser cremado, porque eu acho um alívio ficar fora do caixão”, alega Paulo Pimentel sem perder o bom humor.

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