CulturaDestaqueAvaré e suas sete décadas na era do rádio

Pioneira, Rádio Avaré transmite emoções desde 1948
A Comarca11 de agosto de 202013 min
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Gesiel Júnior

Especial para A Comarca

“Em Avaré, são exatamente doze horas. Entra no ar a ZYS 3, a Rádio Avaré, uma das Emissoras Unidas”.

Com sua voz consonante, Joaquim “Tininho” Negrão assim inaugurava a transmissão radiofônica na cidade, ao meio-dia de 26 de outubro de 1948. Primeiro gerente da emissora, ele, aos 23 anos, estreou historicamente o microfone do pequeno estúdio instalado na Rua Mato Grosso na esquina com a Rua Domiciano Santana, atual Sede Vicentina.

Para o evento, no mesmo lugar usou-se um transmissor de 100 watts plugado a uma torre de 25 metros. Em seguida, o locutor anunciou a primeira atração artística: “Sete Belo e suas Cabrochas”. Esse grupo de sambistas, a maior parte da família Pereira, foi sucesso em apresentações ao vivo.

Fundada pelo empresário Paulo Machado de Carvalho, mestre da comunicação falada, a Rádio Avaré AM integrava o grupo PMC, composto pelas chamadas “Emissoras Unidas”, tendo à frente a Record, Pan-Americana, São Paulo, Bandeirantes e Excelsior.

Na inauguração tomaram parte nomes hoje legendários do rádio avareense: Clóvis Gonçalves Guerra, NascimChaim, Elias de Almeida Ward, Marília Pires, Edmeia Rocha, Luizinho Noronha e Rui Rosário.

Certamente houve outros tantos apaixonados – e é impossível aqui enumerá-los – nessa extensa trajetória onde sobra inovação, criatividade e paixão.

MAGIA NA COMUNICAÇÃO – A história da primeira emissora da cidade é riquíssima. Afinal, quem não guarda uma boa recordação do rádio?

Os mais novos talvez tenham em menor número, mas é quase impossível encontrar alguém sem um caso ligado ao aparelho mágico que nos acompanha há quase 100 anos. Isso mesmo: dos gigantescos móveis com lugar reservado e exclusivo na sala de estar aos atraentes digitais acoplados nos painéis dos automóveis de hoje.

O princípio da propagação radiofônica deu-se em 1887, através do cientista alemão Henrich Rudolph Hertz, que fez saltar faíscas através do ar que separavam duas bolas de cobre. Por causa disso os antigos “quilociclos” passaram a ser chamados de “ondas hertzianas” ou “quilohertz”.

Já a industrialização de equipamentos se deu em 1896 com a criação da primeira companhia de rádio, fundada em Londres pelo cientista italiano Guilherme Marconi, autor das primeiras transmissões sem fios.

Também no Brasil o rádio crescia: um padre-cientista gaúcho, chamado Roberto Landell de Moura, que viveu na vizinha Botucatu, construiu diversos aparelhos importantes expostos ao público de São Paulo em 1893.

Já a primeira transmissão oficial no Brasil seria feita pelo presidente Epitácio Pessoa no Centenário da Independência, em 1922. O discurso presidencial foi irradiado pelo transmissor posto no alto do Corcovado, pela Westinghouse Electric Co.

Tido como o “pai” do rádio brasileiro, Edgard Roquette Pinto criou em 1923 a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Foi quando surgiu o conceito de “rádio clube”, no qual os ouvintes eram associados e contribuíam com mensalidades para a manutenção da emissora.

Em Avaré, 25 anos depois, a primeira estação de rádio chegava para ficar. Era final dos anos 1940, década de ouro da radiodifusão, com uma cobertura de 60% da população brasileira.

“Desde o início a nossa Rádio Avaré teve estrutura muito simples: uma seção artística e uma seção administrativa, nada mais que isso. Contávamos com menos de 20 pessoas para cantar, executar músicas, contabilizar e realizar outras tarefas menores”, revelou o jornalista Elias Ward, um dos pioneiros da estação.

ATRAÇÕES INESQUECÍVEIS – Em 1954, assumiu a emissora um grupo empresarial avareense composto por Amim Ismael, Calil Calixto, Clóvis Gonçalves Guerra, Marília Pires Ward, NaufalIgnatios, Paulo Bastos Cruz, SemeJubran e ZeidSacre.

Rádio Avaré – 1.570 KHS, 191 metros, ponto 1. A emissora evoluía. “Nossa programação diferenciava-se: jornalismo, radionovelas, além de programas culturais, esportivos e humorísticos”, enumera Ward, citando alguns dos primeiros que alcançaram sucesso, como ‘Alvorada Sertaneja’ (Nascim Filho), ‘Revista Social Radiofônica’ (Nádia Maria) e ‘Momentos Esportivos’, este por mim apresentado”.

Atração imperdível eram os programas de auditório. Muita gente lotava a sede da emissora, que até 1979 era a única da cidade e funcionou, por quase 30 anos, no extinto prédio da Beneficência Portuguesa, na Rua Goiás.

No seu palco astros da época marcaram presença como Francisco Alves, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Peri Ribeiro, Cauby Peixoto, Djalma Pires e Wando, que ali se revelou.

“’Bom dia, ouvintes de casa! Bom dia, auditório! Está no ar pela sua Rádio Avaré o programa Rancho Alegre, num patrocínio de Ciro, o Reis dos Móveis’. Assim eu abria o programa. A gente sentia a estação nos dedos, desde quando rodava o prefixo de abertura, a Aquarela do Brasil, até o momento do Boa Noite. A experiência era mágica”. O relato é do jornalista Gustavo Mazzola, filho do escultor Fausto Mazzola, que ainda adolescente trabalhou como técnico de som e locutor.

Importantes comunicadores na Rádio Avaré fizeram escola antes da projeção na grande mídia, dentre os quais três deles na Rádio Bandeirantes: Nascim Filho, Terezinha Ribeiro e LatufAurani; outros três na Rádio Globo: Edmur Barreira, José Carlos Zavanella e Clóvis Salles, além de Wilson José na Rádio Capital e José Carlos Moura e David Pimentel, no SBT.

Ao transmitir, ao longo de seus mais de 70 anos, eventos esportivos, políticos, sociais, culturais e policiais, a Rádio Avaré forjou excelentes profissionais, pois primava pela imparcialidade ao levar aos seus ouvintes informações de Avaré e região.

Nas eleições locais, antes de existir a apuração eletrônica, a emissora esbanjava talento na cobertura jornalística chegando à frente com o resultado das urnas e alcançava incríveis índices de audiência entre os anos 1950 e 1990.

Dos veteranos diretores, a única que permaneceu até o fim, antes da venda da Rádio Avaré para o grupo Eduvale é a nonagenária Marília Pires, viúva do legendário Elias Ward. Ela e os integrantes da família Guerra – incluindo os saudosos Clóvis Gonçalves Guerra e Clóvis Antonio Rocha Guerra – partilharam o mesmo ideal: comunicar com qualidade, pois a radiodifusão se transforma e se pereniza.

Rádio Avaré FM, a nova fase

Integrante da Associação das Emissoras Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (AESP), a Rádio Avaré iniciou o seu processo de migração do AM para o FM, por iniciativa do empresário Cláudio Mansur Salomão, que se tornou sócio proprietário da emissora e a incluiu no grupo Eduvale. A meta da mudança é a obtenção de melhor qualidade de som e redução de chiado e interferências.

“Decolagem autorizada. Vamos iniciar nosso voo. Migração concluída. Rádio Avaré FM 107.1”, anunciou Salomão, ao reproduzir nas redes sociais o Ato nº 3.988, de 28 de julho último, da Agência Nacional de Telecomunicações, que autoriza a emissora a explorar o serviço de radiodifusão.

Prestes a completar 72 anos de atividades, a Rádio Avaré deixa a Amplitude Modulada (AM) e passa para a Frequência Modulada (FM), com melhora da qualidade do sinal, o que abrirá novas perspectivas para a estação de rádio mais antiga da região. (GJ)

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