AcontecendoCulturaCorpus Christi em Avaré: liturgia, arte e solidariedade

Em Avaré, a festa é celebrada há mais de cem anos com solenes procissões eucarísticas
A Comarca11 de junho de 20207 min
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Celebração religiosa criada no século treze, a data do “Corpus Christi” (do latim, Corpo de Cristo) transcorre no Brasil com um feriado para lembrar um dos mistérios mais importantes do catolicismo: o sacramento da eucaristia. Aliás, na teologia católica acredita-se que na eucaristia se dá a transubstanciação, ou seja, a mudança essencial da hóstia e do vinho na carne e no sangue de Jesus.

Em Avaré, a festa é celebrada há mais de cem anos com solenes procissões eucarísticas. No entanto, em meados dos anos sessenta o Corpus Christi, por influência de um jovem padre criativo, o evento passou a contar com manifestações de arte popular através da confecção de tapetes para ornamentar as ruas centrais em preparação ao cortejo religioso.

A iniciativa iniciada em junho de 1965 teve a adesão de professores e de estudantes. Naquele ano, pela primeira vez as vias foram “magnificamente enfeitadas com tapetes e motivos sacros para a passagem do Santíssimo Sacramento” conduzido numa custódia, receptáculo de prata em que a hóstia consagrada é posta para adoração dos fiéis, conforme, empolgado, relatou o monsenhor Celso Ferreira, pároco da igreja de Nossa Senhora das Dores.

Padre Arnaldo e dona Castorina

“Padre Arnaldo Beltrami, nosso coadjutor, auxiliado pela professora Castorina Cavalheiro Rodrigues, suas alunas, as Irmãzinhas da Imaculada Conceição e os moradores por onde ia passar o sagrado cortejo, foram os autores e realizadores desse acontecimento fora do comum”, completou o pároco, em sua anotação no livro tombo da paróquia.

A partir de então o costume se estendeu nos anos seguintes, quando grupos de voluntários, na maior parte, estudantes, costumavam fazer estes enfeites, cujos preparativos eram iniciados dias antes da data do Corpus Christi e muitos varavam a noite trabalhando. O trecho original interligava as igrejas de São Benedito e Nossa Senhora das Dores, as duas únicas sedes paroquiais da época, entre as ruas Piauí e Rio Grande do Sul.

Diversos tipos de materiais como serragem colorida, borra de café, farinha, areia e alguns pequenos acessórios, como tampinhas de garrafas, flores e folhas, eram empregados para a montagem de tapetes ornamentais pelas ruas com dizeres e figuras relativas a temas religiosos.

EX-ALUNOS RELEMBRAM ENFEITES – Atualmente, como a cidade cresceu e conta com sete paróquias, cada comunidade promove a sua própria celebração e os enfeites, quando elaborados, não abrangem longos trechos como antigamente.

“Que saudade dessa época! Padre Arnaldo sempre incentivou e era muito ligado à juventude avareense. Falar da professora Castorina é ter ótimas recordações das aulas de desenho e da preparação dos enfeites de rua para a procissão de Corpus Christi, em que ela conseguia mobilizar os estudantes do então Instituto de Educação Cel. João Cruz, juntamente com o Tiro de Guerra e as freiras do Externato São José. Quantas tampinhas de refrigerantes foram encapadas com papel alumínio de diversas cores! Éramos felizes e sinto gratidão ao me lembrar de tudo isso”, diz Tereza Oliveira.

Chico Pinto, por sua vez, elogia o mentor da iniciativa: “O padre Arnaldo revolucionou a comunidade avareense, principalmente a juventude. Participei muito nessa época dessa festa e de outros eventos que ele organizava. Ele nos contagiava com sua liderança e inteligência. Foi uma época inesquecível da minha vida e tenho saudades”.

Também muito lembrada é a professora Castorina, que aos 90 anos continua ativa. “Ela é inesquecível. Lembro-me dos desenhos que ela fazia para o Corpus Christi. Isso faz parte da minha memória afetiva dos tempos lindos que vivi em Avaré”, revela Cleide Maria Hirsh, hoje residente em São Paulo.

HOJE, MOTIVAÇÃO SOLIDÁRIA         – Sem enfeites e até sem missa com fiéis este ano por conta da pandemia, a festa de Corpus Christi 2020 só contará com celebrações online nas paróquias de Avaré. Entretanto, os párocos, a exemplo do que fizeram nos anos recentes, dão a essa cerimônia um caráter solidário. Este ano o pedido aos católicos é para que colaborem em suas comunidades doando alimentos, cobertores, máscaras faciais e produtos de limpeza, a fim de dar apoio às famílias carentes e às vitimas da Covid-19.

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