CulturaDestaqueA experiência de uma avareense de 102 anos entre duas pandemias

Dona Elza Brandi passou pela Gripe Espanhola e se defende da Covid-19
A Comarca4 de julho de 20208 min
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Fernando Lopes

Gesiel Júnior

Especial para A Comarca

Descendente de imigrantes napolitanos que chegaram ao Brasil em 1880, a avareense Elza Brandi Vieira nasceu durante a maior pandemia da história: a Gripe Espanhola. Primogênita de nove irmãos, aos 102 anos completados recentemente, ela, recolhida em casa, se protege dos riscos do novo coronavírus, outra terrível ameaça à humanidade, causadora da morte de mais de 50 mil pessoas no país desde fevereiro.

“Como eu era muito pequena não me lembro de nada dessa grande gripe. Na época, graças a Deus, fui protegida pela minha família”, afirma dona Elza, que hoje mora em companhia da irmã, professora Lina Brandi, na casa que herdou dos pais e onde conta com a assistência permanente dos sobrinhos, dentre as quais a médica infectologista Martha Carneiro Gonçalves.

“Agora, para deter esse vírus o principal é não sair de casa”, frisa, revelando ter contraído malária quando morava em Piraju, doença que superou. Depois de casada ela também residiu em São Paulo, onde o marido era barbeiro. Teve dois filhos, os quais lhe deram netos e bisnetos. Viúva, prendada como sempre, dona Elza alimenta-se bem, continua primorosa no tricô e no crochê, pois mesmo com a idade avançada, mexe habilmente com as agulhas e faz belas peças artesanais.

“Faço rigorosamente o isolamento desde o começo dessa pandemia. Uso máscara e só recebo, quando necessário, os parentes que também estejam com máscara. Tenho saudades dos filhos, faz tempo que não os vejo, mas é preciso paciência e esperar tudo passar”, recomenda.

Por sua vez, a professora Lina Brandi, de 97 anos, que lecionou Sociologia na Escola Cel. João Cruz, é recordada com carinho por uma legião de ex-alunos. Soube da gravidade da Gripe Espanhola na sua infância e sobre a Covid-19 ela concorda com a irmã mais velha.

“Temos que ter cuidado redobrado com esse bichinho. Ninguém o vê, mas ele é perigoso. A melhor maneira de o vencermos é ficar em casa porque o isolamento é a melhor proteção neste momento crítico”, declara com sabedoria.

FOTO: As irmãs Elza e Lina Brandi, de 102 e 98 anos, respectivamente

Cruz Vermelha de Avaré combateu a “Influenza”

Gesiel Júnior

Especial para A Comarca

Momentos de tensão e isolamento causados pela propagação de vírus, infelizmente, não são inéditos em Avaré. Quando as primeiras notícias sobre a Gripe Espanhola, também chamada de “Influenza” começaram a aparecer no país, a diretoria local da Cruz Vermelha mobilizou-se para evitar que a grave moléstia afetasse os avareenses.

“No caso de a epidemia explodir em nossa cidade, todas as senhoras associadas à Cruz Vermelha colocar-se-ão à disposição da Prefeitura e dos médicos, prestando-se como enfermeiras, particularmente dos enfermos pobres ou indigentes”, afirmam as voluntárias em nota publicada pelo jornal “Município de Avaré”, em 3 de novembro de 1918.

Coube ao médico João de Góes Manso Sayão chefiar o serviço de profilaxia contra a Gripe Espanhola. Político, na condição de presidente da Câmara de Vereadores, ele agia “nessa dupla qualidade” para prevenir a doença. Com frequência liberava boletins do posto médico para informar a população sobre casos notificados, nos quais comentava “a benignidade da epidemia” e a possibilidade de controlá-la em pouco tempo. Para isso pediu ajuda ao Serviço Sanitário do Estado, informando haver em Avaré “um hespanholado, procedente da capital” que se achava “convenientemente isolado em casa de sua família”.

POUCAS VÍTIMAS – Inexistem dados sobre as pessoas contagiadas pela “Influenza” na região. A imprensa fez o registro de poucos casos, dentre os quais o do coronel José Ribeiro de Oliveira Motta, pai do delegado de polícia e futuro prefeito, Tito Motta, que faleceu em sua propriedade rural. Outra morte anunciada foi a do avareense Conradim de Campos Ayres, residente em São Paulo.

Uma das consequências dessa pandemia em Avaré: a retirada das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, que atuavam na enfermagem da Santa Casa de Misericórdia. O grupo de freiras deixou Avaré para ajudar no atendimento das milhares de vítimas em São Paulo, o que foi lamentado pelo bispo de Botucatu, já que elas ajudavam no socorro aos doentes pobres.

 

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