GeralPelas Memórias da professora Maria Tereza Carvalho Lutti, ou simplesmente, Dona Biba

A Comarca15 de outubro de 201917 min
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Por Bianca Stella

Em virtude do Dia do Professor, fui incumbida de preparar uma matéria especial para a edição dessa semana. Particularmente, tenho imensa satisfação em desenvolver pautas sazonais, elas me tiram da rotina do “hard news” e me fazem pensar “fora da caixa”. Foi então que na tarde da última segunda-feira, 7, meu querido amigo historiador, Gesiel Júnior me indicou uma personalidade incrível, que viria a ser entrevistada por mim: professora Maria Tereza Novaes de Carvalho Lutti, ou simplesmente, Dona Biba.

Às 16h de uma quarta-feira ensolarada, lá estava eu, na porta da casa dessa mulher notável… Minhas mãos estavam suando devido à ansiedade. Ouvi o barulho do portão abrindo e lá estava a Dona Biba… Ela me recebeu de peito aberto, com um sorriso no rosto, ah que sorriso!

Aos 94 anos, a pequena grande mulher esbanja lucidez e boas memórias para contar. Ex-professora de matemática, lecionou por mais de 30 anos no Coronel João Cruz e fez parte da primeira turma de ensino superior da Fundação Regional Educacional de Avaré (FREA), iniciada em fevereiro de 1968.

Quando sentei na poltrona de sua sala, com todo seu humor, ela disparou aos risos: “Acho que dei aula para metade da cidade”.

Ainda estava tímida e perguntei: “Dona Biba, me conte… As coisas mudaram muito de lá pra cá?”

Sem hesitar, rápida no raciocínio, ela me respondeu. “Com certeza, né? Antes o professor era valorizado, os pais participavam mais da vida dos alunos, hoje vemos esse distanciamento, e é tão complicado. Está difícil ser professor hoje”.

Dona Biba começou nas salas de aula sem diploma de graduação. É que na época não existia faculdade em Avaré. Por volta dos seus 50 anos, a professora que lecionava há tempos para crianças e adolescentes, conseguiu seu diploma de licenciatura.

Durante nosso bate-papo, ela disse que é abordada por seus ex-alunos até hoje… “Sabe, muitos dos meus aluninhos, me encontram e dizem que lembram das minhas aulas. Mas eles cresceram tanto, mudaram, às vezes não consigo reconhecer todos. Sou imensamente grata por ver pessoas que ensinei”, enfatiza.

Exigente, mas não rígida… Dona Biba disse ter lecionado com paciência e amor pelo que fazia. “Não era esse tipo de professora ‘carrasca’, eu explicava quando meus alunos não entendiam, pois gostava de vê-los interessados pela matéria”.

A filha, Ana MariaLutti Zink, também é professora aposentada e lecionou inglês por 20 anos na mesma escola em que a mãe trabalhou. “Estudei a vida toda lá, tive o privilégio de ter aula com a minha mãe, inclusive, ela traz o legado do amor pela educação em nossa família. Infelizmente, os tempos são outros, nossos educadores não são mais valorizados como antigamente. Antes era uma profissão muito respeitada”.

Dona Biba me contou também que dava 44 aulas por semana e a rotina era bem corrida. O tempo quase não sobrava, recém-casada, ela se desdobrou para dar conta dos afazeres pessoais e ainda preparar uma aula impecável. “Naquela época, eu não tinha carro, sabe? Era bem corrido, eu dava aula de manhã, almoçava em casa, voltava, e às vezes dava aula à noite”, relata.

Conversamos muito sobre o atual sistema educacional no Brasil, seus problemas e desafios. Ao final do diálogo, fui surpreendida com um pedaço de bolo e com o cheirinho de café vindo da cozinha. Dona de uma delicadeza indescritível, ela segurou minha mão por alguns segundos e disse: “Venha tomar café conosco”.

Sem esperar tamanha gentileza, sentei-me à mesa e comi um pedaço de bolo doce como ela, que aconchegou meu coração aflito pela quantidade de compromissos a resolver.

Dona Biba, a mulher a quem dedico minhas singelas palavras deste texto, é uma mulher forte, notável, guerreira. É fragmento da história da minha avó, de centenas de avareenses, e agora da minha também.

Quando voltei para casa, senti uma alegria incomensurável pela oportunidade que tive nesta semana.

Essa matéria foi escrita por uma jovem menina que ainda tem muito que aprender com figuras incríveis como a Dona Biba.

À mestra, com carinho e afeto…

Por Bianca Stella

One comment

  • Sonia Maria Lutti Ribas

    16 de outubro de 2019 at 20:30

    Texto muito bem escrito sobre essa admiravel pessoa-minha mãe
    Agradeço as palavrss carinhosas e as descrições exatas sobre essa professora que,durante muitos anos,passou seus conhecimentos,com muita dedicação,a varias gerações de estudantes.
    Obrigada à esta colunista,mais uma vez.

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